23 de Agosto de 1645, em algum lugar da França...
- Marie... seu nome será Marie... - dizia a mulher, de cabelos negros, arfando após um difícil parto
- Jeanne... - Respondeu um homem magro, trajando o que pareciam ser roupas de caça usada por um nobre, feitas de couro verde - Não fale nada... Poupe suas energias, por favor.
- Jacques... - Jeanne respondeu, com os olhos afundados em lágrimas - Apenas vá com ela... antes que eles cheguem, por favor...
- Não! Isso está fora de cogitação! - O homem berrou e o bebê, ainda sujo de sangue, começou a chorar - Não vou te abandonar aqui, Jeanne!
- Apenas vá, Jacques... - A mãe dizia fraca, fazendo esforço pra se sentar na cama - Eu os segurarei por aqui... Você sabe que eu so...
- NÃO! - o bebê chorou mais alto.
O homem então ficou calado. Olhou para a face de sua amada e deu uma bela olhada em volta. Quem diria... Antes, adornado de jóias, ouro e glória, e agora tudo que via era escuridão, sofrimento, fome, correria. Estavam numa cabana, antiga, feita de madeira. Dentro dela, apenas uma cama de palha, bem rústica, onde Jeanne estava sentada. Do lado da cama havia um criado mudo, no qual apenas uma vela acesa, a única fonte de iluminação no local, podia ser vista. O cheiro de velhice dessa cabana irritava o nariz de Jacques. Por mais que estivesse correndo, seus sentidos ainda estavam apurados para o sentido nobre da vida. E aquele cheiro o incomodava.
Para a sua sorte, o cheiro de terra molhada pela forte chuva que caía lá fora começava a travar uma batalha aromática com o mofo da cabana, trazendo uma mistura peculiar e gostosa, até certo ponto. Perto da porta da cabana, uma capa de couro marrom estava pendurada e por cima da capa, uma espada, embainhada.
Em meio aos clarões de relâmpagos e aos fortes estouros dos trovões, Jacques ainda não acreditava no que estava acontecendo. Esse era para ser o dia mais feliz da sua vida: Sua filha nasceu saudável, uma linda menina. Jacques olhava pra ela e todo esse maldito turbilhão que contorceu sua vida parecia se endireitar. "Tal criatura não merece mesmo esse destino", Jacques pensou consigo, enquanto olhava com os olhar mais terno do mundo à sua filha. Caminhou até ela e com um pano que estava na cama, secou cuidadosamente o sangue dela. Olhando-a de perto, o rapaz notou que ela tinha o nariz parecido com a da sua mãe. Sorriu sem perceber e olhou para Jeanne: Ela ainda estava suja de sangue. As suas pálpebras pesavam com o cansaço, tamanho o esforço empregado para parir sua cria, mas ainda assim. Ela conseguiu abrir os olhos e viu Jacques lhe entregando Marie, agora envolta numa toalha branca.
- Ela é linda... - disse Jeanne, com a voz fraca e com lágrimas nos olhos. Então, deu-lhe um beijo na testa e disse - Perdoe-me, meu anjo. Perdoe-me pela terrível maldição que nosso sangue carrega... Perdoe-me por tudo que farei você passar, mon petit bijou...
As lágrimas pingavam no rosto da pequenina. Por mais que Jacques fosse forte, ele não aguentou e chorou silenciosamente e triste. Ele curvou-se até a Jeanne, abraçou-a forte. Sentiu as gélidas lágrimas dela em seu rosto e então a beijou de forma carinhosa e amorosa. Ele sabia que essa seria a última vez que viria sua mulher. Olhou-a nos olhos, afastou os seus longos e negros cabelos, pegando carinhosamente pelo rosto. Tentou dizer algo, discordando da idéia de correr dali e deixar sua mulher morrer, Jeanne fitou-o, censuruando-o o suficiente para que o fizesse desistir da idéia de falar. Andou até o gancho, colcou sua capa nos ombros e se emcapuzou. Pegou sua espada, prendeu a na cintura e voltou até a cama. Então, com o olhar mais triste que já teve, pegou cuidadosamente sua filha, enrolando-a de forma mais cuidadosa e a colocou dentro de sua capa. Mirou novamente para Jeanne, que fez um sinal com as mãos para que ele fosse embora, antes que fosse tarde. Jacques acenou com a cabeça e foi.
Assim que o primeiro passo foi dado, os dois ouviram um estrondo vindo de fora, como os de uma bota acertando a madeira. Jacques olhou para sua mulher preocupado, e ela retornou esse olhar. A segunda batida veio. Jacques recuou alguns passos e sacou sua espada, de lâmina incrívelmente límpida e reluzente, enquanto Jeanne, sorrateiramente, pegou uma adaga prateada, escondida debaixo do travesseiro.
A terceira batida foi ouvida. A porta caiu de forma violenta no chão, revelando uma silhueta do que parecia ser um homem. Jacques conseguiu divisar, mesmo no escuro, que haviam outros três homens, juntos com aquele que estava na frente da porta caída. Suas mãos estavam suando, suas pernas tremendo. Seu coração estava tão rápido que por um instante achou que fosse explodir. Era o medo. Ele recuou mais alguns passos até que um relâmpago trouxe a luz assim, revelando a imagem.
terça-feira, 6 de abril de 2010
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9 comentários:
Que Marie du Sang possa ser "a" sua Zaratustra, a menina dos olhos de seu autor. Talvez você tenha nascido pra prosa narrativa mesmo hehe. Só falta dar uma revisada e quem sabe, ampliada. Abração e Sucesso! =)
Como eu disse no MSN, parece bastante interessante, já que pelo que parece, a história se foca na filha que nasceu. Se postar continuação, vou estar aqui pra ler.
Beijos (L
Gostei, vou acompanhar ;DDD
Não sei porque senti uma pegada X-Men na trama. Você consegue manter o leitor preso a história, ao passo que não faz tantos rodeios para seguir com a narrativa.
Achei bastante interessante e como todo bom autor você lança mão da capacidade de instigar o leitor a querer saber o que vem a seguir.
Em alguns pontos específicos o texto carece de revisão, e você poderia também usar algum recurso da internet pra evitar "lugares comuns" e clichés o que enriqueceria o texto.
No mais é isso, aguardo ansioso pelos próximos capítulos, meu caro Leon.
Não tenho palavras...
Vc é um gênio cara, eu fico de cara como vc escreve.
Vou com certeza acompanhar essa história!
Concordo que tem uma pegada de X-men na historia, mas que isso eu gostei muito. Na parte que você descreveu o carinho deles se olhando, que isso... deu uma super angustia!
Muito bom Leon, muito mesmo!
Ahh que lindo! seu texto cativa a gente.. :) gostei mesmo, tb vou acompanhar!
Leon, o texto está muito cativante mesmo, como muitos falaram. Acho que falta um pouquinho mais de descrição do lugar e outras partes, mas nada como O Senhor dos Anéis, apenas o suficiente pra fazer o leitor se incluir na trama. Mas está de parabéns, cara.
Luís Everaldo
Leon, gostei mto da história! Vc leva jeito msm...continue escrevendo viu? O Brasil precisa de mais jovens escritores ;)!
Um beijo!
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