quinta-feira, 8 de abril de 2010

O Gênese do Sangue - Parte II

O relâmpago foi tão forte que conseguiu iluminar de forma perfeita o rosto que estava no portal da cabana. O pouco tempo que Jacques tinha foi suficiente para ele descobrir quem era aquele rosto familiar. Jeanne viu um rosto marcado pelo tempo: Rugas, marcas do tempo, cicatrizes. Mas ainda era um rosto imponente. Os cabelos castanho-escuros molhados pela chuva estavam jogados no rosto e mesmo assim os olhos completamente negros podiam ser vistos focando-se na pequena Marie, ignorando o fato de seu marido estar com uma espada apontada pra ele. O homem andou alguns passos e outro relâmpago cortou os céus, dessa vez revelando a sua vestimenta: Botas e luvas de couro, agora sujas de lama, um tabardo tão negro quanto o céu da noite, portando o poderoso e imponente escudo da família real francesa. Por baixo do tabardo, era possível ver uma cota de malha que ia do tronco, até as pernas, também embarreada. Na sua cintura, uma espada embainhada, tão imponente quanto a de Jacques.

O homem caminhou para dentro da cabana a passos fortes, fazendo cada pelo de Jacques se arrepiar. Enquanto andava, os ruídos de metal se chocando ritmadamente ficavam mais intensos. Talvez porque seus passos tornavam-se ainda mais fortes. Primeiro, ele andou perto das paredes e com a luva, ainda molhada, passou o dedo indicador pela cabana, até chegar perto da cama. Olhou para a luva e com uma cara de desgosto a limpou. Então se virou para Jacques e lançou-lhe um olhar fulminante.

- É nisso que está vivendo agora, Jacques? - o homem perguntou, disparando olhares de nojo para a cabana – Trocaste o conforto da realeza por isso? Por essa... Cabana com fedor de estrume?
- Saia daqui, Pierre! – Jacques ameaçou firme, do outro lado – Mais um passo e eu juro que abro uma segunda boca na sua garganta!
- Ora, ora... O nobre arrependido criou garras – ele disse num tom irônico, enquanto se aproximava de Jeanne
- NÃO SE APROXIME PIERRE! EU JURO PELA SANTA CRUZ QUE FAREI VOCÊ SE ARREPENDER AMARGAMENTE DISSO! – Jacques deu passo à frente, mas logo hesitou em dar outro quando viu os outros três homens, que trajavam a mesma roupa que Pierre entrarem no quarto também.
- Não... Sua mulher não é o que queremos, Jacques – Pierre se virou para Jacques e foi caminhando até ele, calmamente – Queremos a pequenina...
- Não encoste nem um dedo nela, Pierre! – Jeanne disse, bufando de raiva, mesmo sem forças pra isso – Você não vai querer ver do que uma mãe ameaçada é capaz!
- Já estou acostumado com isso. Mais do que você imagina, bruxa meretriz. – Pierre cuspiu no chão ao dizer isso, e logo se virou para a Jacques e a menina – Agora, deixe me ver essa criança...

À medida que Jacques recuava e levantava a trêmula espada em sua mão numa tentativa inútil de afastar Pierre, dois dos três homens ficaram na porta vigiando, enquanto um deles se aproximava de Jeanne como uma hiena faminta. E assim, o desespero depositou sua capa em Jacques. Ele fechou os olhos por uns instante e os abriu e tudo ficou em câmera lenta. O pobre homem olhou para sua mulher, numa busca sem sucesso de resposta, que mentalmente tentava lhe dizer “Corra, meu amor!”. Depois, olhou para o bebê em seu colo, pensando em como isso poderia afetá-la mais tarde, ela era pequena demais para se afundar nesse tipo de problema. Mas, ao mesmo tempo, não queria deixar sua mulher ali, à mercê dos homens. Ele sabia que os soldados usufruiriam dela. Isso seria uma desonra completa pra si: Abandonar sua mulher e deixar que outros homens abusem dela. Olhou-a novamente, e viu que ela ainda estava com o olhar de súplica para que corresse dali o mais depressa possível. A confusão na mente de Jacques ficava pior e pior, até que olhou novamente para Marie. Ela não chorava mais. Estava dormindo, mesmo com toda a barulhada e comoção. A carinha de anjo dela fez Jacques entender tudo. Alguém precisava continuar, eles precisavam continuar, não havia como fugir disso.
Ele então se encheu de confiança, faria isso por sua filha. Uma de suas maiores virtudes era a rapidez nos pensamentos. Chegava a conclusões e ligava pedaços de lógica numa velocidade impressionante e fez uso disso para traçar seu plano de fuga. Olhou para Pierre que ainda se aproximava e depois para os guardas do lado de fora. O plano era simples. Trombar com os dois, e ganhar na força. Depois, correr como nunca correu na vida, até achar um abrigo. Assim que estivesse seguro, iria pensar em outro plano para despistar os perseguidores. Não era um belo plano, mas era tudo que poderia ter essa hora. Jacques segurou Marie firme e olhou determinado para o lado de fora. Ele estava decidido, iria por seu plano em prática... Se não fosse por um detalhe.

Um sentimento estranho o assolou. Sentiu seu coração bater forte, muito forte. Não como antes, mas de uma forma ainda mais temerosa e preocupante. Cada bombeamento era forte, podia ser sentida pelo corpo todo. As veias pulsavam num ritmo diferente. Era como se as batidas descompassadas de seu coração tentassem lhe dizer algo. Seu corpo estava relutante em se mexer. Cada músculo de seu corpo, cada fibra de seus músculos faziam força contrária ao pedido suplicante do cérebro de Jacques para correr adiante. Talvez, por puro instinto, Jacques olhou para todos os outros homens no quarto. Pierre estava parado, atônito, de boca aberta. Os guardas haviam entrado no quarto, e em puro desespero gritavam sem entender o que estava acontecendo.

O terceiro guarda, aquele que estava perto de Jeanne agora estava suspenso no ar, mas nada o sustentava. Era como se ganchos invisíveis o suspendessem cada vez mais alto. Ele gritava de pavor e olhava aterrorizado para todos. “Capitão! Capitão! Ajude-me!”, berrou o pobre rapaz, que ficou a dez palmos de altura do chão. Então, Jacques virou-se para a sua mulher e aí pôde entender o que estava sentindo. Jeanne estava mudada. Seus cabelos estavam jogados para frente, tampando seu rosto. Sua camisola, outrora suja de sangue, estava limpa agora. A mão estava estendida, aberta e apontada para o guarda que estava levitando. Sempre que ela mexia os dedos, o homem suspenso urrava de dor, como se algo o machucasse.

- Agora é tarde... – Jacques disse, com a voz baixa – Ela está descontrolada...

5 comentários:

Duquesa disse...

Ele avisou pra nao chegar perto, Pierre. Agora morra, sil vous plait.

A Jeanne não tem controle nenhum sobre essa coisa. Seja lá o que for, demônios internos ou bruxaria... Isso me faz pensar novamente que ela se parece com o Jeann :B

Tá muito cool, Leon, continue.

Kiko Barbosa disse...

puuuuta q pariusons




foooooooda!

Anônimo disse...

No final... eles não sabiam o que uma mãe ameaçada poderia fazer. AAAAAHHH sensacional. Continue a historia, está muito boa! ^^

Unknown disse...

HÁÁÁÁ, ela avisou que não era pra mexer com ela. cara burro ¬¬ AIUSHAIUHS

- tá manerasso leon
;*

Kinen disse...

*Inserte Referencia a Monty Phyton*
WE FOUND A WITCH MAY WE BURNE HER?

BURN THE WITCH!!!
BURN THE WITCH!!!
*Termine a Referencia*


Awesome velho, a historia é muito interessante, lerei até o final